Aumentos sucessivos nos ZERO KM e alta demanda pelos usados criaram uma situação inusitada no mercado nacional

Quem comprou o novo Toyota Corolla na época do lançamento, em setembro de 2019, pagou entre R$ 99.990 e R$ 130.990 no carro, dependendo da versão. Cerca de um ano e meio depois, a marca japonesa lança a linha 2022 do modelo, que traz poucas novidades, com preços entre R$ 120.790 e R$ 158.990. Isso mesmo, a versão de entrada (GLi) do sedã médio mais vendido do país teve um aumento de R$ 20.800 em 16 meses! Hoje, ela custa quase o que custava a versão Altis (2.0 ou 1.8 Hybrid) na estreia.

Um aumento dessa magnitude gerou uma situação pra lá de curiosa, pra não dizer absurda, no mercado de seminovos. Vamos pegar por exemplo a versão mais vendida do Corolla, a intermediária XEi. Ela custava R$ 110.990 sem setembro de 2019, já como modelo 2020, e agora aparece na tabela Fipe (referência de tabela de preços de usados) por R$ 110.831. Ou seja, quem comprou esse carro há um ano e meio agora pode vendê-lo por praticamente o mesmo preço que pagou! Na verdade, vai pedir até mais, porque a grande procura pelos seminovos fez os preços dispararem. E hoje o mais difícil é achar um Corolla XEi 2020 na tabela Fipe. A média dos anúncios está acima dos R$ 116 mil…

De acordo com dados da Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores), o mercado de usados cresceu 23,6% na comparação de dezembro de 2020 com o mesmo mês de 2019, enquanto o setor de novos recuou 7,5%. Isso fez com que o preço dos seminovos, em especial os com até 3 anos de uso, subisse até 2% num único mês do final do ano passado, segundo levantamento da KBB. A Fenauto diz ainda que o ticket médio do carro usado atingiu o maior valor anual em dezembro do ano passado, chegando a R$ 48.823. Em 2019, este índice era de R$ 42.103, o que revela aumento de quase 16%.

O caso do Corolla é emblemático, mas está longe de ser o único. E lojistas e vendedores de concessionária já admitem que a situação é o “novo normal”. Numa revenda da Mitsubishi da capital paulista, um vendedor que preferiu não se identificar explicou que os carros 0 km têm chegado em número reduzido e com preços cerca de R$ 20 mil acima do que era há 6 meses. “A tendência é trabalhar com menos unidades e, para compensar, aumentar a margem”, conta. Segundo ele, a alta de insumos como aço, borracha e eletrônicos tiveram forte aumento nos últimos meses e repassar essa alta no preço é o único jeito de manter as operações saudáveis.

Já numa loja da Renault, também na capital paulista, os aumentos já se refletiram em queda nas vendas no começo de 2021. “Um Captur que era vendido até dezembro por R$ 88 mil hoje não sai por menos de R$ 103 mil”, explica uma vendedora que pediu para ter o nome preservado. A mesma rede já considera o fim da versão de entrada do Kwid, a Life, que segundo os lojistas não aparece há meses no estoque. O motivo? Com a falta de insumos, a Renault possivelmente deu preferência às versões mais completas para ter mais margem, assim como a Chevrolet admitiu que fez nos meses logo após a paralização total por conta da pandemia.

A escassez de insumos também está levando à falta de alguns modelos na rede de concessionárias. É o caso do VW Nivus, que tem fila de espera de até 60 dias e, por conta disso, pode ser encontrado em lojas particulares com preços bem acima da tabela do 0 km: de R$ 108.700 a R$ 115.000 na versão topo de linha Highline, que é tabelada a R$ 104.090 pela VW. É a famosa lei da oferta e procura: quem tem o carro coloca o preço lá em cima – cabe ao consumidor não aceitar o ágio.

No caso dos importados, a situação é ainda mais delicada porque envolve também a elevação do dólar. Com a moeda norte-americana cotada persistentemente acima dos R$ 5,30, algumas marcas se viram obrigadas a suspender a importação de alguns modelos ou versões porque ficaram com preços inviáveis – é o caso do Range Rover Evoque, que perdeu a versão topo de linha P300 na gama 2021 lançada recentemente. Neste cenário, porém, quem comprou antes da pandemia pode realmente ganhar um bom dinheiro na venda. Basta analisar o que houve com o preço do Mercedes-Benz GLC 300 Coupé, por exemplo. Ele foi lançado por aqui em 2019 a R$ 362.900 e agora custa, pasmem, R$ 540.900. Isso fez o usado (2019/2020) custar R$ 400.777 na Fipe, ou seja, quase R$ 38 mil a mais do que custou na época do lançamento.

Então carro voltou a ser investimento no Brasil, como já foi na época da super inflação? Pode acontecer com quem comprou um zero km ou seminovo nos últimos meses, mas a tendência é que isso seja uma fase passageira. Claro que a alta do 0 km estimula o mercado de seminovos e usados, porém o fato é que os preços dos carros novos já estão num patamar que em breve o consumidor não poderá (ou não aceitará) mais pagar. Em resumo, a hora é boa para vender seu usado, mas apenas se a ideia não for comprar um mais novo. 

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Fonte do conteúdo: Motor1.com (UOL)

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